segunda-feira, 26 de julho de 2010

O ALEPH. JORGE LUIS BORGES (1899-1986)

O Aleph - Jorge Luis Borges
O ALEPH (no original, El Aleph) é um livro de histórias curtas de Jorge Luis Borges, publicado em 1949, contendo, entre outros, o conto que dá nome ao livro. Ambos são representativos do estilo de Jorge Luis Borges e da escola literária latino-americana do realismo mágico da qual ele é indicado como uma das manifestações mais originais.

Os contos do livro Aleph são: O imortal; O morto; Os teólogos; História do guerreiro e da cativa; Biografia de Tadeo Isidoro Cruz (1829-1874); Emma Zunz; A casa de Astérion; A outra morte; Deutsches Requiem; A busca de Averróis; O Zahir; A escrita de Deus; Abenjacan, o Bokari, morto no seu labirinto; Os dois reis e os dois labirintos; A espera; O homem no umbral; e, finalmente, O Aleph.

Quanto ao conto, O Aleph, especificamente, o protagonista se depara com a possibilidade de conhecer o ponto do espaço que abarca toda a realidade do universo num local bastante inusitado: no porão de um casarão situado em Buenos Aires, prestes a ser demolido. Este ponto recebe a alcunha de Aleph - a letra inicial do alfabeto hebraico, correspondente ao alfa grego e ao a dos alfabetos romanos.

A idéia de unidade na multiplicidade é tema borgiano por excelência e, no conto em apreço, sua exposição literária é primorosa. (fonte: wikipedia)

"Primeira letra do alfabeto hebraico, o 'aleph' dá nome a uma das mais bem realizadas obras de Jorge Luis Borges, reunindo 17 contos - traduzidos por Flávio José Cardozo (revisão de Maria Carolina Araújo e Jorge Schwartz) - que sintetizam momentos extremamente diversificados a narrativa borgeana. Nela encontramos exemplos magistrais do gênero fantástico, em que uma prismática imaginação se desdobra nas infinitas visões da paisagem narrativa. O passado e o presente se confundem nas tramas oníricas que se contrapõem à realidade cotidiana. Uma espécie de crioulismo cosmopolita o leva a reconstruir uma épica de sua própria família, povoada de índios aloirados, passar por Tebas, pelo país do trogloditas, pela Espanha islâmica de Averróis, por desertos árabes e até por uma prisão na cidade asteca de Tzinacán, no conto 'A escrita do Deus'. Histórias de reis, imperadores e sacerdotes se amalgamam ao cotidiano de personagens insípidas, medíocres e suburbanas. (fonte: livraria cultura)

Faça download na íntegra do verdadeiro livro "O Aleph" no Scribd.com.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

“Correio Litorâneo”. Nereu Afonso da Silva


Nereu Afonso da Silva
Correio Litorâneo”, de Nereu Afonso da Silva. 2006, Editora Record, 80 páginas, R$27,90 na Livraria Cultura.

Apresento mais um livro do tipo “se-não-gostar-devolvo-o-seu-dinheiro”! Para quem odeia livros volumosos, este tem apenas 80 páginas. E se você adora ler bíblias, pode ler e reler que sempre há de tirar algo de novo. Eu, por exemplo, li duas vezes, e a segunda leitura foi melhor que a primeira.

Apenas ler. Apenas ler? Palavras que me martelam. Dez da matina e ainda está 2º C. Põe frio nisso. Li o livro em duas horas e quinze minutos, mais a pausa para o lanche. Deveriam fornecer sanduíche de pão francês, queijo e mortadela e um copo de nescau quentinho ou café com leite. Mas não seria de graça. Nada é de graça. Descontariam no final do mês. Prefiro o nescau. Seu trabalho é apenas ler – diriam. Deixe a crítica para os críticos, pois eles ganham para isso. Limite-se apenas à leitura. Mas não dá, não consigo, sempre que leio, acabo por achar erros gráficos: “difuculdade”, na linha 17, segundo parágrafo, página 35; e “cumpadre”, na última palavra do 1º parágrafo, p. 55, se bem que este último pode ser apenas “estilístico”, o que é aceitável. Numa primeira leitura, sempre identifico sem querer erros gráficos, mas não consigo me desvincular do conteúdo, do clima das narrativas e já solto, entre outras coisas, meus comentários.

O livro foi editado pela Record, pelo Sistema Cameron da Divisão Gráfica. E, mesmo assim, há um erro gráfico. Imperdoável. O Nereu, o autor, superou quase 2000 outros escritores e deixaram um erro gráfico na impressão. Tem horas que me sinto como Winston Smith (“Nineteen Eighty-four”, G. Orwell) diante daqueles cinescópios monocromáticos à válvula com um teclado de máquina de escrever, criando a Novilíngua. Ou eu estou confundindo com  Sam Lowry de “Brazil, o filme” (Terry Gillian, 1985). Sei lá. O que importa mesmo é o livro do Nereu. Eu lia os livros e, sem querer, comentava minhas observações durante a pausa para o café com colegas que nem conhecia. Eles prestavam atenção demais, gravavam tudo e publicavam sem que eu soubesse. Falou em público é o fim do direito autoral. Agora eu sei, por isso eu minto, descaradamente para eles e para outros. Agora me deram uma planilha para enumerar os livros lidos. Anotei: livro nº 2458; a data: 20/07/2010, hoje; e o autor: Nereu Afonso da Silva.

Pediram que omitisse o nome do livro para não criar afeição, mas fiz um link oculto para outra planilha e, então, o título vai. E é a mais pura verdade, creiam:

 “Correio Litorâneo”, contos, vencedor do prêmio SESC de Literatura de 2006.

Desconfio, mas não duvido que a PF esteja investigando supostas irregularidades nos concursos literários. Dizem que é denúncia oriunda da ABL.  Alguns imortais querem criar a cadeira nº 41, a qual, como as demais, será de rodas também, mas motorizada. Sabe aquele chá?, com gotas de leite à inglesa (no Brasil), às 5 da tarde, que ninguém mais sente o aroma do chá, pois o cheiro avassalador de glade de lavanda toma conta do ambiente, tudo para suprimir o mofo e a naftalina. (Volte ao livro!)

Sim. Com relação ao livro de Nereu Afonso da Silva, num concurso com mais de 2000 participantes, os jurados souberam premiar, senão o melhor, um dos melhores. Seria a pausa para os aplausos da comissão julgadora de notáveis. Leitura gostosa, divertida, acessível, contemporânea. Nada daquela abominável erudição e daquele artificialismo semântico-gramatical. As narrativas fluem com naturalidade, tudo por que o livro não tem aquelas frases longas e chatas, dispostas em períodos compostos por subordinação e, graças ao Nereu, não me deparei com nenhuma daquelas terríveis orações subordinadas substantivas completivas nominais, tampouco a pior de todas, a subjetiva. Para que artificializar, se as frases com orações simples e diretas, tão comuns na oralidade, são muito mais que eficientes?

Nas poucas 79 páginas do livro, estão dispostos 8 (oito) contos muito bens distribuídos em duas partes: “Uns” e “Outros”. Os temas variam desde o hilário, quase-burlesco, “Úngaro dos Passos” (p.9); passando pelo terno e encantador “Goma-Arábica” (p.45 – aquele que mais gostei); até o meio-filosófico-intimista “Migravit ad Dominum” (p.77) que encerra o livro com brilhantismo de vencedor de concurso. Os contos de “Correio Litorâneo” possuem independência, cujas narrativas se mostram, às vezes?, não-lineares. Não se pode falar em “texto multifacetado”, como alguns críticos sugerem com frequência.

Os contos do livro estão ligados por um delicado liame, que nada mais é que o tal do “Correio Litorâneo”, como se as histórias estivessem sob o mesmo raio de abrangência do “pior jornal do planeta”, que “ia mofando nos lares e escritórios da região” (p.48). Como é de se esperar de um bom texto, ao final de cada conto lido, alternavam-se minhas expressões ditas, algumas vezes silenciosamente, para não influenciar os outros colegas de trabalho: “excelente”, “fantástico”, “maravilhoso”, “sensacional”, sem falar nos risos e gargalhadas, quando já não conseguia mais me conter. Sim, pois os contos de Nereu são curtos, rápidos e dinâmicos, temperados com doses de perspicácia, inteligência  e, o melhor, humor, cuja variação, deliciosamente, é apenas em grau. Vejam:

“...Feliz aniversário, o moço diz. Obrigada. Aproximam-se para que ele lhe dê um beijo. Obrigada.., e ela devolve-lhe o beijo. Continuaram assim pertinho, recolhidos um para o outro, protegidos por uma bolha invisível e única, hostis a toda violência, a toda aspereza das pancadas e chicoteadas do mundo de fora. Um outro beijo partilhado. Obrig... E mais Outro, ou talvez ainda o mesmo. Você tem os lábios tão doces, ela suspira. E eu gosto do seu nariz, o moço diz. Do meu nariz? Enquanto isso, o gelo das caipirinhas ia derretendo, os sanduíches iam esfriando, parte da cidade roncava na frente da televisão, a vela, o Correio Litorâneo, o pior jornal do planeta, ia mofando nos lares e escritórios da região. É, do seu nariz. E o moço beija-lhe o nariz. A garçonete, do balcão, de sagitário, observa os amantes, áries e aquário enrolando-se. Você acredita em signos, Portal?, pergunta a garçonete. Acredito...” (p.48);

“...Prefeito:

— Porra, Leitão (não há símbolos ou letras na tipografia atual que exprimam a estridência desse penúltimo grito).

Reação:

Uma melodia surda, às avessas, indicava, como o trovão indica a existência do relâmpago, que a trajetória habitual dos líquidos e vapores do meu ventre fora alterada.

Só há tempo para fechar a porta. Rápido, amigo! — disse, de novo, a mim mesmo.

Tlac.

Feito isso, um jato de vômito rompeu-me o focinho. Uma inundação.

Nunca minha alcunha encaixara-se com tanto ajuste como agora a essa minha atitude trágica e desfigurada. A meleca expandiu-se sobre a mesa recém ordenada. Imaginem, como quiserem, uma espécie de mapa-múndi onde a madeira escura do tampo da mesa representa os mares e oceanos, enquanto que o dinâmico vômito, de sua pangéia original, toma aos poucos o rumo do atual endereço que os continentes e ilhas ocupam no globo...” (p.38/39 – um riso sincero de 20 segundos)


P.S.: Procurem ler literatura de verdade, não essas “coisas” que algumas renomadas revistas tentam lhe empurrar goela abaixo, como se os leitores fossem um tipo exótico de lixeira. Seja um bom entendedor, fazendo com que os livros que você leu se sintam orgulhosos de terem lhe dado uma mãozinha.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Rasif – mar que arrebenta. Marcelino Freire


Rasif – Mar que arrebenta”, Marcelino Freire. 2008. Editora Record, 131 páginas. R$27,90 na Livraria Cultura. Capa dura, com ilustrações de Manu Maltez.

Há algo de muito estranho em “Best Sellers”. Sabe aquele mistério da coisa megalomaníaca? Tanta gente lendo a mesmíssima coisa? Aqui e no mundo inteiro? Não, não entro mais nesta onda suspeita. Prefiro ser cauteloso e ficar por aqui mesmo. Minha austeridade já vê de longe as conspirações editoriais. Temos ótimos escritores daqui mesmo. Não, não me refiro ao Machado, Guimaraes, Veiga. Falo de escritores de agora, hoje, ontem, amanhã. A língua portuguesa do Brasil vive, grita, berra, com outro sotaque. Quer ser ouvida, ou melhor, lida. E, para quem ainda não conhece, eis o escritor Marcelino Freire. Novamente, não, outra vez. Já havia lido, com muito gosto, “Balé Ralé” e “Contos Negreiros”. Agora foi a vez de “Rasif – mar que arrebenta”.

No universo dos contos de Freire, não há perfume de rosas, existe é "uma arma escondida no buquê" e o sentimento é outro: “Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça.” (p.77). Já imaginou um pai levando para casa um travesti para tomar um café?, e quem nos conta a história é o júnior. O dilema de um pai que sonha em ver o filho virar um famoso jogador de futebol, mas que não tem habilidade nenhuma com a bola e, o que é pior, quer ser poeta. E por aí vai. Em “Rasif”, a violência não espanta, a homossexualidade é sem fobia, a loucura é do ponto de vista dos loucos. Marcelino Freire poderia até ser classificado como uma voz ou um estandarte das minorias, dos desfavorecidos, mas não. Na obra de Marcelino, não há hipocrisia, impera a ironia,o deboche, o sarcasmo, a dubiedade. Entendam como quiserem! – Ele diria. Mas é uma das formas que ele encontrou para nos incomodar, intimidar, ruborizar – “Ei, acordem, seus trouxas!”. A Literatura não precisa ser literatice e não é porque retrata a realidade nua e crua que é menor ou inferior. A verdadeira literatura não deve ser uma forma de fugir da realidade. E, ah!, antes que perguntem, respondo: se você gosta de ler auto-ajuda, livros evangélicos, Sabrina e Dan Brown, não irá gostar. Vai a seguir uma dose homeopática:

“O que é um sabonete perto da natureza? País de marginal!

Queremos que soltem o Grande Sol, o Cacique tá dizéndo. Ele tem direito ao que
é cheiroso. Já que tudo agora deu pra feder. Água de esgoto. Que ele trouxe no pote-curare.

Ave!

Você vem? Quem vem beber desta água? Quem tem coragem? Hein? Selvagem? De meter a língua nesta fedentina? Ele tá desafiando: a senhora aí, de blusa azul-piscina.

Saudade do cacau azul. E do jenipapo. Do jutai-açu. Ingá-chichi. Ele tá dizendo. Lacrimejando. Mas peraí. A gente não tá aqui pra chorar as pitangas. Fazer folclore, nada disso.

Porém vou contar uma história. Ele tá dizendo. Sabe o mendigo Caitetu? Não era mendigo. E nem tava nu. Veio à cidade de vocês, vestido. Maltrapilho e educado. E sabe o que fizeram com Caitetu, o coitado?

Queimaram vivo.

Ele tá dizendo, repito.

Queimaram vivo.” (p.103, in “Tupi-guarani”)


Leiam também: “Contos Negreiros” e “Balé Ralé”, já resenhados aqui.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

1984 - George Orwell


Tive o prazer de ler o livro "1984" no transcorrer do mesmo ano, instigado pela propaganda da época. Um livro que me marcou e vem  marcando gerações desde sua primeira publicação. Posteriormente, adquiri também o LP de Rick Wakeman, inspirado no mesmo livro, cuja música "Julie's song", na voz de Chaka Kan, fez muito sucesso. E, claro,  anos depois, assisti ao filme, do qual fiz questão de manter uma cópia, da segunda adaptação, com os atores John Hurt, Suzanna Hamilton e Richard Burton. A seguir, um apanhado de informações sobre um livro que também virou um clássico:

"Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (em inglês: Nineteen Eighty-Four) é um romance distópico clássico do autor inglês Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell. Publicado em 8 de junho de 1949, retrata o cotidiano de um regime político totalitário e repressivo no ano homônimo. No livro, Orwell mostra como uma sociedade oligárquica coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. A história narrada é a de Winston Smith, um homem com uma vida aparentemente insignificante, que recebe a tarefa de perpetuar a propaganda do regime através da falsificação de documentos públicos e da literatura a fim de que o governo sempre esteja correto no que faz. Smith fica cada vez mais desiludido com sua existência miserável e assim começa uma rebelião contra o sistema, o que o leva a ser preso e torturado.

O romance se tornou famoso por seu retrato da difusa fiscalização e controle de um determinado governo na vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. Desde sua publicação, muitos de seus termos e conceitos, como "Big Brother", "duplipensar" e "Novilíngua" entraram no vernáculo popular. O termo "Orwelliano" surgiu para se referir a qualquer reminiscência do regime ficcional do livro. O romance é geralmente considerado como a magnum opus de Orwell.

História: Orwell, que tinha "a tese de seu romance encapsulada no coração" desde 1944, escreveu grande parte de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro na ilha de Jura, na Escócia, entre 1947 e 1948, enquanto sofria de um quadro crítico de tuberculose.  Ele enviou o texto final do livro para os editores Secker e Warburg em 4 de dezembro de 1948, e o livro foi publicado em 8 de junho de 1949.

Em 1989, Mil Novecentos e Oitenta Quatro já havia sido traduzido para mais de 65 idiomas, mais do que qualquer outro romance de um único autor. O título, os termos, o idioma (Novilíngua) presentes no romance, assim como o sobrenome do autor viraram sinônimo para a perda de privacidade pessoal para a política de segurança nacional de um determinado Estado. O adjetivo "Orwelliano" tem muitas conotações. Pode se referir à ação totalitária, assim como às tentativas de um governo em controlar ou manipular a informação com o propósito de controlar, apaziguar ou até subjugar a população. "Orwelliano" também pode se referir à fala retorcida que diz o oposto do que realmente significa ou, mais especificamente, à propaganda governamental que dá nomes errados às coisas; no romance, o "Ministério da Paz" lida com a guerra e o "Ministério do Amor" tortura as pessoas. Desde a publicação do romance, o termo "orwelliano" tem, de fato, tornado-se uma espécie de bordão para qualquer tipo de excesso ou desonestidade governamental e, portanto, tem múltiplos significados e aplicações. A frase Big Brother is Watching You ("O Grande Irmão está te observando") conota especificamente a vigilância invasiva frequente.

Apesar de ter sido banido e questionado em alguns países, o romance é, ao lado de Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e Nós de Yevgeny Zamyatin, uma das mais famosas representações literárias de uma sociedade distópica. Em 2005, a revista Time listou o romance como uma das cem melhores obras de língua inglesa publicadas desde 1923.

Título: Um dos títulos originais do romance era O Último Homem da Europa (The Last Man in Europe), mas em uma carta para o editor Frederic Warburg datada de 22 de outubro de 1948 (oito meses antes do livro ser publicado), Orwell declarou que estava "hesitando" entre este título e Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, apesar de que Bernard Crick, biógrafo de Orwell, afirma que foi Warburg quem sugeriu que o título fosse mudado para algo mais vendável.

As razões de Orwell para o título são desconhecidas; ele podia estar fazendo uma alusão ao centenário da socialista Sociedade Fabiana, fundada em 1884, ou ao romance distópico The Iron Heel de Jack London (onde um movimento político chega ao poder em 1984) ou a O Napoleão de Notting Hill de G. K. Chesterton, que se passa em 1984, ou ao poema "End of the Century, 1984" ("Fim do Século, 1984") de sua primeira esposa, Eileen O'Shaughnessy. Anthony Burgess afirma, em seu romance 1985, que Orwell, estando decepcionado com o começo da Guerra Fria, tinha a intenção de nomear o livro de 1948.

De acordo com a introdução da edição da Penguin Modern Classics edition, Orwell originalmente quis intitular o livro de 1980, mas com a demora na finalização do romance, ele o nomeou de 1982 e depois de 1984, coincidentalmente o reverso do ano em que foi finalizado, 1948. Mesmo assim, outros acreditam que Orwell intencionalmente escolheu o título do livro como o reverso do ano em que foi escrito, para aludir à possibilidade de que os eventos do romance não estão tão distantes o quanto podem parecer; eles acontecem numa época que se assemelha muito à Grã-Bretanha do final da década de 1940.

Equívocos particulares: Um dos maiores equívocos em relação à obra de Orwell é de que se trata de uma desilusão com as ideias socialistas. Em uma carta a Francis A. Henson, membro do sindicato estadunidense United Auto Workers, datada de 16 de junho de 1949 (sete meses antes de sua morte), que foi reproduzida na revista Life (edição de 25 de julho de 1949) e no The New York Times Book Review (31 de julho de 1949), Orwell declarou o seguinte:

Meu romance recente [Nineteen Eighty-Four] não foi concebido como um ataque ao socialismo ou ao Partido Trabalhista Britânico (do qual sou um entusiasta), mas como uma mostra das perversões… que já foram parcialmente realizadas pelo comunismo e fascismo. O cenário do livro é definido na Grã-Bretanha a fim de enfatizar que as raças que falam inglês não são intrinsecamente melhor do que nenhuma outra e que o totalitarismo, se não for combatido, pode triunfar em qualquer lugar. — Collected Essays.


Num ensaio de 1946 intitulado "Por que Escrevo" ("Why I Write"), Orwell descreve a si mesmo como um socialista democrático, embora afirme que a agenda política trouxe consigo implicações muito diferentes do que seria esperado.

Sinopse - No livro, conta-se a história de Winston, um apagado funcionário do Ministério da Verdade da Oceania e de como ele parte da indiferença perante a sociedade totalitária em que vive, passa à revolta, levado pelo amor por Júlia e incentivado por O'Brien, um membro do Partido Interno com quem Winston simpatiza; e de como acaba por descobrir que a própria revolta é fomentada pelo Partido no poder. E também de como, no Quarto 101, o chamado "pior lugar do mundo", todo homem tem os seus limites.

A trama se passa na Pista No. 1, o nome da Inglaterra sob o regime totalitário do Grande Irmão (no original, Big Brother) e sua ideologia IngSoc (socialismo inglês), e conta a história de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, um órgão que cuida da informação pública do governo. Diariamente, os cidadãos devem parar o trabalho por dois minutos e se dedicar a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. Smith não tem muita memória de sua infância ou dos anos anteriores à mudança política e, ironicamente, trabalha no serviço de rectificação de notícias já publicadas, publicando versões retroactivas de edições históricas do jornal The Times. Estranhamente, ele começa a interessar-se pela sua colega de trabalho Julia, num ambiente em que sexo, senão para procriação, é considerado crime. Ao mesmo tempo, Winston é cooptado por O'Brien, um burocrata do círculo interno do IngSoc que tenta cooptá-lo a não abandonar a fé no Grande Irmão.

De fato, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas. George Orwell escreveu-o animado de um sentido de urgência, para avisar os seus contemporâneos e as gerações futuras do perigo que corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose - para poder acabá-lo. Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais da esquerda que percebeu para onde o stalinismo caminhava e é aí que ele vai buscar a inspiração - lendo Mil Novecentos e Oitenta e Quatro percebe-se que o Grande Irmão é baseado na visão de Orwell sobre os totalitarismos de vária índole que dominavam a Europa e Ásia na época. Stalin, também Hitler e Churchill foram algumas das figuras que inspiraram Orwell a escrever o romance.

O Estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outros meios, pela manipulação da língua. Os especialistas do Ministério da Verdade criaram a Novilíngua, uma língua ainda em construção, que quando estivesse finalmente completa impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Uma das mais curiosas palavras da Novilíngua é a palavra duplipensar que corresponde a um conceito segundo o qual é possível ao indivíduo conviver simultaneamente com duas crenças diametralmente opostas e aceitar ambas. Os nomes dos Ministérios em 1984 são exemplos do duplipensar. O Ministério da Verdade, ao rectificar as notícias, na verdade estava mentindo. Porém, para o Partido, aquela era a verdade. Assim, o conceito de duplipensar é plausível a um cidadão da Oceania.

Outra palavra da Novilíngua era Teletela, nome dado a um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto. Nele, o "papel de parede" (ou seja, quando nenhum programa estava sendo exibido) era a figura inanimada do líder máximo, o Grande Irmão.

No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundo ele, o objectivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos. Assim, um dos lemas do Partido, "guerra é paz", é explicado no livro de Emmanuel Goldstein: "Uma paz verdadeiramente permanente seria o mesmo que a guerra permanente".

Personagens:

Winston Smith - protagonista do romance, um homem comum fleumático.

Júlia - Amante de Winston, um rebelde "secretas da cintura para baixo", que elogia as doutrinas, é militante do Partido, enquanto vive secretamente em contradição com elas.

O'Brien - Um agente do governo que engana Winston e Julia fazendo-os acreditar que ele é um membro da resistência, e convencendo-os a aderir a esta, e depois usa isso contra eles para torturá-los. Ele convence-os de que eles não devem apenas obedecer, mas amar o Big Brother. O'Brien pode ser visto como principal antagonista da novela.

Big Brother - Autocrata da Oceânia. Actua de modo semelhante a "Joseph Stalin". Winston Smith aponta que ele nunca foi visto, nem ninguém se lembra de ver o Big Brother, e sugere que ele pode não existir. Declaração de O'Brien que o Big Brother "nunca vai morrer" também contribui para esta teoria, sugerindo que o Big Brother pode ser apenas uma representação simbólica do partido como um todo. Sua imagem está em toda parte, principalmente nos cartazes onipresentes que advertem: "Big Brother is Watching You".

Emmanuel Goldstein - Um ex-membro de topo e agora opositor do partido. Actua de modo semelhante a Leon Trotsky. Assim como o Big Brother, Goldstein, se alguma vez foi real, está provavelmente morto, ambos podem ter sido criados para fins de propaganda.

O Partido - É o grupo que se mantém no poder através de métodos semelhantes aos nazistas, comunistas ou fascistas, entretanto, de forma explícita. O objetivo do partido não é nada menos do que o poder. O Partido é marcado pela onipresença do Grande Irmão, que ao país governa e a todos vigia.


Guerra é paz,
Liberdade é escravidão,
Ignorância é força.
—  Lema do Partido

Ministérios:

 

Os Ministérios são as principais representações do Partido, e encarregados, cada um, de manter a harmonia da ideologia do Partido.

Ministério da Verdade (em Novilíngua Miniver)

Prédio do Senado, suposta inspiração para o Ministério da Verdade

Ver artigo principal: Ministério da Verdade (1984)


É responsável pela falsificação de documentos e literatura que possam servir de referência ao passado, de forma que ele sempre condiga com o que o Partido diz ser verdade atualmente. Seguindo essa lógica, o Partido é infalível, pois nunca errou.

Ministério da Paz (em Novilíngua: Minipaz)

É responsável pela Guerra. Mantendo a Guerra contra os inimigos da Oceânia, no caso Lestásia ou Eurásia. A Guerra no contexto do livro é usada de forma permanente para manutenção dos ânimos da população num ponto ideal. Uma forma de domínio também.

Ministério da Fartura (em Novilíngua: Minifarto)

É responsável pela fome. Em termos práticos, a economia da Oceânia é responsabilidade deste. Divulgando seus boletins de produção exagerados fazendo toda a população achar que o país vai muito bem. Entretanto, seus números faraônicos de nada adiantam para o bem-estar da camada mais baixa da população de Oceânia, a prole.

Ministério do Amor (em Novilíngua: Miniamo)

É responsável pela espionagem e controle da população. O Minstério do Amor lida com quem se vira contra o Partido, julgando, torturando e fazendo constantes lavagens cerebrais. Para o Ministério, não basta eliminar a oposição, é preciso convertê-la. O prédio onde está localizado é uma verdadeira fortaleza, sem janelas. Seus "habitantes" não tem a menor noção de tempo e espaço, sendo este mais um instrumento do ingsoc para a lavagem cerebral dos dissidentes do regime.

Termos em Novilíngua

Uma das características da novilíngua é o fato de ela ser a primeira língua a reduzir seus termos.

Ao contrário das outras línguas, onde cada vez mais são anexadas novas gírias e conceitos, a novilíngua retira termos, como antónimos e sinónimos.

Entre os exemplos citados no livro, se algo é "bom", não é necessário existir a palavra "mau", simplesmente seria "imbom", sendo o prefixo "im-" (ou "in-") característica antonímia da palavra. Também não é necessário existir "ótimo" ou melhor que bom, seria simplesmente "plusbom". Se fosse melhor ainda, seria "dupliplusbom".

Outra característica básica da novilíngua é o fato de não representar pensamentos errados ou como chamadas "crimideias", afinal, se não era possível definir algo, seria como se esse algo não existisse.

Duplipensar - Duplo pensamento, duplicidade de pensamentos,saber que está errado e se convencer que esta certo."inconsciencia é ortodoxia"

Crimideia - Crime ideológico, pensamentos ilegais

Impessoa - Uma pessoa que não existe mais, e todas as referências a ela devem ser apagadas dos registros históricos

O mundo do livro:

No livro as nações se dividem em três grandes impérios modernos, que são grandes potências:

Oceania - o maior dos impérios, governa toda a Oceania, América, Islândia, Reino Unido Irlanda e grande parte do sul da África.

Eurásia - o segundo maior império, governa toda a Europa (exceto Islândia, Reino Unido e Irlanda), quase toda a Rússia e pequena parte do resto da Ásia.

Lestásia - o menor império, governa países orientais como China, Japão, Coreia, parte da Índia e algumas nações vizinhas.

Outros terrítórios, como o norte da África, o centro e o Sudeste da Ásia e a Antártica permaecem em disputa.

Adaptações: O livro foi adaptado para o cinema duas vezes. A primeira adaptação foi realizada por Michael Anderson em 1956 e trazia Edmond O'Brien no papel principal, Jan Sterling como Júlia, Donald Pleasence como Parsons e Michael Redgrave como O'Brien. A segunda adaptação foi feita por Michael Radford no próprio ano de 1984, trazendo John Hurt no papel principal, Suzanna Hamilton como Júlia, e Richard Burton, em seu último papel no cinema, como O'Brien. Da trilha-sonora desta versão, intitulada 1984 (For the Love of Big Brother), e feita pelo grupo de música eletrônica Eurythmics, foi lançado o sucesso "Sexcrime (Nineteen Eighty-Four)".

Dois anos antes da primeira adaptação para o cinema, a BBC realizou uma adaptação televisiva do romance. Esta adaptação provou ser altamente controversa, tendo sido questionada no Parlamento e recebido várias reclamações de telespectadores devido a seu conteúdo supostamente subversivo e de natureza perversa. Numa pesquisa conduzida pelo British Film Institute (Instituto Britânico de Cinema) para determinar os cem melhores programas de televisão da Grã-Bretanha do século XX, esta adaptação de 1984 apareceu na septuagésima terceira posição.

O romance também foi adaptado para o formato de ópera, tendo estreado na Royal Opera House em 3 de maio de 2005. Os veículos da imprensa britânica, como o Daily Telegraph, o Financial Times e o The Guardian, teceram críticas altamente negativas à obra, enquanto a revista estadunidense Newsweek e o jornal espanhol La Vanguardia a elogiaram.

Impacto na cultura popular:

O reality show Big Brother, desenvolvido pelo holandês John de Mol, é uma referência ao personagem do Grande Irmão de 1984.

A história em quadrinhos V de Vingança, posteriormente adaptada ao cinema (também com John Hurt no elenco), de autoria de Alan Moore e desenhada por David Lloyd, tem clara inspiração no romance 1984, uma vez que também trata de uma sociedade distópica na Inglaterra do futuro. Tanto nos quadrinhos quanto no filme, a estética utilizada, bem como alguns aspectos do próprio governo, em muito se assemelham às descrições de Orwell. O personagem "V" apresenta ideais românticos e anárquicos, próximos aos desejos de Winston.

O filme Equilibrium, estrelado por Christian Bale, e passa numa sociedade distópica do futuro, que apresenta algumas semelhanças com aquela retratada por Orwell em 1984.

O jogo de computador Half Life 2, apresenta uma série de semelhanças com 1984, uma vez que mostra uma resistência lutando contra o domínio totalitário de uma raça alienigena sobre os humanos, mantidos sob manipulação da informação, controle da fertilidade e outros aspectos presentes também no livro.

O autor de ficção científica David Brin costuma dizer que o grande mérito da ficção científica não é prever o futuro, mas pintar um futuro tão horrível que as pessoas vão lutar que ele não aconteça. Neste sentido, 1984 é talvez o livro mais importante do século, porque, a qualquer sinal de tirania, a sociedade lembra do livro e luta para impedi-la. "

(Fonte: wikipédia) - Do mesmo autor, leia também "Animal Farm" (A Revolução dos Bichos) e assista ao filme.

George Orwell

terça-feira, 13 de julho de 2010

O que é comunicação poética. Décio Pignatari


9ª Edição, Cotia-SP, Ateliê Editorial, 66 páginas, R$21,00.

Esclarecedor. Didático. Um livro para quem diz que não gosta de poesia, ao invés de admitir que não a entende. E um livro também para quem gosta de ler poesia e/ou para quem tem a coragem de produzir poemas. Para os primeiros, este livro é como uma lanterna de 500 watts na escuridão; para os segundos, uma ferramenta insubstituível. Em apenas 66 páginas, numa linguagem acessível e direta, Décio Pignatari fala sobre um assunto que ele domina como poucos. Segundo o autor, a poesia não pode ser lida como a prosa. É um grande equívoco em que o leitor tropeça ao culpar o poeta ou sua poesia, quando há apenas erro de leitura. Poesia e prosa pertencem a “planos” distintos. A prosa prima pelos significantes, “nível de competência”, enquanto a poesia pelo significado, “nível de desempenho” (p.12). “Para o poeta, mergulhar na vida e mergulhar na linguagem é (quase) a mesma coisa. Ele vive o conflito signo vs. coisa. Sabe (isto é, sente o sabor) que a palavra “amor” não é o amor — e não se conforma...” (p.11)

Em outro momento, Pignatari vai direto, esclarecendo causa e consequência: “A maioria das pessoas lê poesia como se fosse prosa. A maioria quer “conteúdos” — mas não percebe formas. Em arte, forma e conteúdo não podem ser separados. Perguntava o poeta Yeats: ‘Você pode separar o dançarino da dança?’ Quem se recusa a perceber formas não pode ser artista. Nem fazer arte.” (p.18)

A seguir, as palavras do próprio autor:

“O poema é um ser de linguagem. O poeta faz linguagem, fazendo poema. Está sempre criando e recriando a linguagem. Vale dizer: está sempre criando o mundo. Para ele, a linguagem é um ser vivo, O poeta é radical (do latim, radix, radicis = raiz): ele trabalha as raízes da linguagem. Com isso, o mundo da linguagem e a linguagem do mundo ganham troncos, ramos, flores e frutos. É por isso que um poema parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo. É por isso que um (bom) poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade. É por isso que um poema, sendo um ser concreto de linguagem, parece o mais abstrato dos seres. É por isso que um poema é criação pura — por mais impura que seja. É como uma pessoa, ou como a vida: por melhor que você a explique, a explicação nunca pode substituí-la. É como uma pessoa que diz sempre que quer ser compreendida. Mas o que ela quer mesmo é ser amada.” (p.11/12)

Em “Observações Finais”, p. 61, o autor encerra com dicas simples e claras, sem aquela arrogância tão tradicional de muitos teóricos:

“1) Já pouco se usam poemas de forma fixa: de vez em quando, pinta um soneto. Quanto a módulos fixos, a quadra resiste ou você cria o seu, como o faz João Cabra!. No mais, é o “verso livre”, de comprimento, métrica e ritmo variáveis.

2) Sendo assim — como sempre foi, aliás — saber “cortar” o verso, saber passar de um para o outro, é lance importante.

3) Nos poemas gráfico-espaciais, a tipografia e a caligrafia (quando for o caso) não podem ser desprezadas. Quem se ligar nessa, precisa curtir a fascinante história da escrita e da tipografia.

4) Quanto ao mais, este manualzinho, principalmente em sua parte prática, é algo assim como uma bola de futebol ou uma prancha de surf. Não está nelas o principaI: a graça, a habilidade, a coragem, a signi-ficação — que dependem do talento e do desempenho de você.”

Por fim, algumas belas “ilustrações” do livro:

“Uma coisa é dizer: A chuva cai./Outra é mostrar a chuva caindo:(p. 50)

chuva
chuva
chuva
chuva
chuva
chuva

“Veja como Ronaldo Azeredo sintetizou dinamicamente uma seqüência banal como a descrição da luz solar desaparecendo das ruas da cidade à medida que a tarde cai:

ruaruaruasol
ruaruasolrua
ruasolruarua
solruaruarua
ruaruaruas”

(p.58)

E, para encerrar:

“Estamos dando a você aquilo que é fundamental para a competência poética — mas abrindo para o desempenho criativo, que é tarefa sua.

Muita inibição ao nível do desempenho é provocada pela insegurança ao nível da competência. É nisto que se apóia a censura, de fora e de dentro (autocensura), para impedir que você crie. Vamos reabrir ambas as válvulas.” (p.12)