sábado, 27 de março de 2010
E-pifanias - Pequenas histórias para acordar. Carlos Seabra
segunda-feira, 22 de março de 2010
Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar os sofrimentos dos monstros. Elrodris
sábado, 13 de março de 2010
Cultura Geral – Tudo o que se deve saber. Dietrich Schwanitz.
Há quem se dedique a estudar e conhecer profundamente, por gosto ou sina - não sei, um só assunto, um só tema, cada vez mais e mais, emburrecendo para todo o resto. A este grupo pertencem os cientistas, os gênios, os prêmio-nobéis. Por outro lado, não tão ao contrário, há quem goste de conhecer um pouco de tudo, às vezes até são capazes de portarem-se como os do grupo anterior em algum assunto, mas é como se tivessem a mentalidade de almanaque, até pejorativamente falando. Este grupo é formado pelas pessoas conhecidas como “cultas”, “instruídas”, que muitas vezes são confundidas com aqueles extintos “sábios” dos livros de história. Mas os “sábios” são quase mitológicos e confesso que nunca conheci um pessoalmente. Mas todos hão de concordar que as pessoas do segundo grupo são muito mais empáticas e divertidas para se “bater um papo” que as do primeiro grupo. E o que dizer do alemão Dietrich Schwanitz?
“Dietrich Schwanitz nasceu em 1940. Estudou Filologia inglesa, História e Filosofia nas universidades de Münster, Londres, Filadélfia e Friburgo. De 1978 a 1997 foi professor de Cultura e Literatura inglesa na universidade de Hamburgo. De 1997 a 2004, data de sua morte, viveu de seu trabalho como escritor. Além deste livro, publicou “Der Campus” (O Campus) e “Der Zirkel” (O Círculo).” Eis a descrição do autor que consta na orelha inicial do livro (516 páginas). E então? Bem. Com um currículo como este, ninguém irá duvidar da capacidade de Dietrich Schwanitz de falar sobre “cultura”, mais precisamente “cultura geral”. Para quem gosta de Literatura, Arte, Música, História, Política, Filosofia, de apenas um, de alguns ou de tudo junto, eis “O Livro” que faltava. Com “Cultura Geral – Tudo o que se deve saber” é possível ao leitor apaixonado por conhecimentos gerais e cultura, finalmente, organizar o que já sabe, aprofundar-se ainda mais em alguns assuntos e enriquecer seu “banco de dados”. Não se trata de esnobismo, querer aparecer, ser mais do que somos, mas este livro é uma ferramenta para tirar muitas dúvidas que persistiam e que achávamos que morreríamos com elas, conhecer o porquê das coisas, pessoas, dos países serem como e o que são. Em linguagem acessível e clara, sem erudição, o autor quer ser compreendido para que seu trabalho tenha resultado. O livro tem 516 páginas, mas está muito bem organizado e dividido pedagogicamente, facilitando ao leitor seguir com a leitura ou retornar para algum assunto que queira rever.
“Cultura Geral – Tudo o que se deve saber” é um livro para todos, mas principalmente para os amantes do “saber” e, claro, para quem lida com o ensino e o conhecimento, os professores.
O próprio autor é quem diz no prefácio endereçado “Ao Leitor”: “Tenho a sensação de que o momento é propício para um livro como este. E acho que os leitores têm direito a ele. Sou solidário com aqueles que buscam conhecimentos e são alimentados com fórmulas prontas: antigamente eu também me sentia assim. Por isso, escrevi o livro que teria sido necessário para mim naquela época – o livro com toda a bagagem que chamamos de cultura.”
Como aperitivo ou... amostra grátis, da introdução do livro, p.XX:
“Inteligência, talento e Criatividade
Nesse capítulo, abordamos sucintamente a discussão atual sobre temas que possuem um papel decisivo para o sentimento de auto-estima de muitas pessoas: inteligência, talento e criatividade. Falamos sobre as diferenças entre criatividade e inteligência, mostramos como funciona nosso cérebro e a existência de cinco tipos diferentes de inteligência.
O que não convém saber
Esse assunto trata daquelas províncias do saber que pertencem ao território da trivialidade e que de preferência deveríamos deixar ocultas, como a visão geral e enciclopédica sobre a vida privada de atores, nobres e pessoas importantes, além de trazer informações sobre as regras referentes às técnicas de comunicação para lidar com conhecimentos marginais, sem interesse cultural, triviais ou absolutamente duvidosos.
O saber reflexivo
Nesse capítulo, mostramos que a formação cultural permite a auto-avaliação. Nesse sentido, fazemos um balanço e sintetizamos o teor do presente livro na seguinte pergunta: o que faz parte da cultura geral?”
“Cultura Geral – Tudo o que se deve saber”, de Dietrich Schwanitz, 2007, editora Martins Fontes, R$82,30, mas parcela-se em até 3 vezes. Acredite! É um bom investimento. Depois, depois conversaremos! Eis um livro que irá marcar sua vida! Leitor antes e “O Leitor” depois da leitura.
terça-feira, 9 de março de 2010
Os saltitantes seres da Lua. Nelson de Oliveira
“...Papai, papai, eles estão chegando, os caipiras, papai, eles estão chegando, corre, corre, papai, corre, eles estão chegando, os caipiras./ Pulavam, ao meu redor, as crianças. Comecei a rir, diante daquela cena. Pulavam em câmera lenta, como se estivessem no vácuo, na superfície da lua. Enquanto uma subia, outra descia, alternadamente, os estranhos seres da lua. Duas criaturas gordas, flutuantes, numa cratera qualquer, saldando-me alegremente.”(p. 73/74).
“Aparentemente absorvido por um zumbido composto de mil clarins, o anjo, atordoado por este acorde dissonante, sem fronteiras, ecoando entre o céu e a terra, perceptível apenas pra ouvidos refinados, divinamente abrangentes e refinados, reconhece em si parte daquela questão irrespondida, talvez “The Unanswered Question”, formulada no início dos tempos e representada por flautas, oboé e clarineta, entre outros, há alguns anos, por um compositor americano, Ives.” (p.9).
“...Ele existia, era sólido e palpável, porém, seus olhos apresentavam uma coloração terrivelmente alucinada e transparente, como se neles, mergulhado em suas pupilas quase pré-históricas, estivesse presente, muito bem aprisionado, um reflexo claro e detalhado do dilúvio universal – a catástrofe da vida, borbulhando a mais de 100° C.” (p.36/37)
Essas três passagens são apenas um aperitivo, amostra grátis do estilo de narrativa dos cinco contos que fazem parte de “Os saltitantes seres da Lua” (1997). O primeiro parágrafo faz parte do conto que dá nome ao livro, no qual nos deparamos com uma espécie de guerra “conceitual”, choque de culturas levadas ao extremo, talvez o único tipo de guerra que poderia haver num povo antibelicista e pacífico por natureza como o brasileiro. O segundo parágrafo pertence ao conto “Nowhere man” e o terceiro ao conto “Naquela época tínhamos um gato”. O escritor Nelson de Oliveira é um pesquisador de estilos, garimpeiro de bons escritores e já escreveu e organizou livros de sucesso no meio literário como “Geração 90: manuscritos de computador”, “Geração 90: os transgressores”, “O século oculto” e outros. Tudo isso lhe deu um estilo diversificado e único que torna sua escrita leve, objetiva, direta, simples e acessível a qualquer leitor. Os contos de Nelson de Oliveira não cansam nem enjoam, são de uma digestibilidade impressionante. Em “Os saltitantes seres da Lua”, como bem diz numa das orelhas do livro, o autor “faz uma viagem em que percorre a infância e a maturidade, em seus desafios éticos, morais, suas perdas e crises, desespero e transformação”. O estilo “fantástico”, ou do “realismo mágico”, como alguns preferem, está presente nos contos de forma discreta em alguns e, em outros, nem tanto, mas imprescindível para a percepção da trama pelo leitor. A meu ver, o realismo mágico é que dá “cor” e “sabor” aos contos e, admito, sou fã incondicional do estilo e do escritor, claro.
Os saltitantes seres da Lua. Nelson de Oliveira. Editora Relume Dumará. 1997. 86 páginas. R$25,90 na Livraria Cultura.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Como falar dos livros que não lemos? Pierre Bayard
Com a leitura deste livro é possível que o leitor se livre da “culpa” e da “vergonha”. Agora poderemos interromper a leitura daquele livro chato, monótono, não merecedor do nosso precioso tempo, sem nos sentirmos culpados. Claro! Fica só aquele arrependimento de ter gasto um dinheirinho à-toa. E como tem livros assim! Eu, particularmente, não faço resenha ou comentário dos livros que não gostei. Fazer crítica negativa também é um marketing. Por isso, aos livros ruins concedo o esquecimento. Pierre Bayard veio para dar apoio ao leitor tradicional e dicas para leitores iniciantes. O autor cria categorias de livros. Os que não lemos, aqueles que apenas folheamos, outros que ouvimos falar e até os livros esquecidos.
Pierre Bayard defende o desenvolvimento “saudável” do leitor. Para o autor, todos os tipos de leitura e de “não-leitura” são válidos e ajudam a entender o mundo, absorvendo todo o tipo de informação. Bayard é categórico ao dizer que “a não-leitura não é a ausência de leitura”. A “não-leitura” é uma ação positiva, consistindo num ato de organização do leitor diante da imensidão de livros que estão a nossa disposição. O leitor deve saber selecionar os livros por áreas de interesse, por gosto pessoal, por resenhas, pelos comentários da capa, pelas orelhas dos livros, por sugestões de críticos. E, ainda assim, sempre submeter o livro ao seu crivo pessoal. Bayard nos lembra que o livro não pode ser visto como uma ferramenta para se enriquecer culturalmente, ou impressionar os outros. Segundo o autor, o livro deve ser visto como uma forma de autoconhecimento: "O paradoxo da leitura é que o caminho em direção a si mesmo passa pelo livro, mas deve continuar sendo uma passagem. É uma travessia de livros que o bom leitor realiza, sabendo que cada um deles é portador de uma parte dele mesmo e pode lhe abrir um caminho, se tiver a sabedoria de não parar ali."
“Como falar dos livros que não lemos?”, de Pierre Bayard, é da Editora Objetiva, preço médio R$29,00.